Viajar é um prazer que deve ser desfrutado por todos.Os que ficam viajam com as notícias e os futuros viajantes superam os obstáculos através delas.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
Prólogo. Viagem ao redor da América do Sul em setembro de 2014.
Amigos e parentes pediram para contar sobre a viagem que fiz pelo Brasil e mais nove países da América do Sul. É quase um livro, então começarei aos poucos enquanto o tempo, paciência e o interesse de vocês permitir.
Planejar o roteiro de uma viagem dessas é quase impossível. Você não saberá onde estará e quanto tempo levará para chegar em um determinado ponto. As variáveis são muitas, reservar hotel nem pensar, então o que fiz: garanti uma motocicleta que aguente o tranco de 22.000 km e 43 dias de estrada de todos os tipos e o tempo que vai do sol escaldante à neve com vento forte, para isso comprei uma BMW F800 GS Adventure cujos detalhes técnicos poderei falar mais tarde.
Viajaria sozinho, portanto teria que pensar em tudo: nas questões mecânicas pois a moto necessitaria de revisão e manutenção, de saúde pois poderia passar mal ou sofrer um acidente, legais devido aos documentos e procedimentos na entrada ou saída na fronteira de determinado país, psicológica pois não é fácil passar 43 dias sozinho e a maioria do tempo na estrada, no deserto e com muito frio, emergenciais devido aos possíveis acidentes na estrada ou, o que é sempre muito provável, esquecer alguma exigência que não havia nem pensado, de seguro para mim e a moto porque tudo poderia acontecer, financeiras pois necessitaria trocar moedas em cada país que visitasse ou os cartões de crédito poderiam falhar, como aconteceu.
Tomei todas as vacinas necessárias e para isso fui a um posto do Ministério da Saúde e perguntei sobre o assunto e eles me orientaram, vacinaram e me deram uma carteira internacional de vacina. Fui ao DETRAN e tirei uma carteira internacional de motorista. É igual a sua carteira só que escrito em muitos idiomas. No final não houve necessidade mas o seguro morreu de velho. Comprei um vasilhame para colocar gasolina. Soube que no deserto do Chile e do Peru os postos são raros e no caso de me perder poderia morrer na praia, ou melhor, no deserto.
Comprei 500 reais em moedas de cada país que visitaria para o caso de não conseguir pegar dinheiro no banco a tempo de suprir uma emergência. Ah! comprei também 500 dólares e guardei 500 reais. Sei que o real é bem aceito na América do Sul mas quis me cercar por todos os lados. Comprei material sobressalente para a moto, por exemplo: presilhas, lâmpadas do farol, lubrificante de corrente, WD40. Na loja de camping e comprei cordas, roldanas, cordeletes, mosquetões, barraca, rede de dormir com mosquiteiro pois pretendia dormir em acampamento e poderia haver necessidade de desatolar a moto.
Fui ao médico fiz um chekup completo pedi exames para saber se precisaria tomar algum remédio e pedi uma farmácia improvisada do tipo: se me der dor de barriga tomo isso, dor de cabeça, aquilo. febre...etc.. Importante levar a receita do médico para provar que os remédios tem origem legal e no caso de necessitar comprar mais. Comprei alimentos que o pessoal de montanha usa para manter a caminhada e a energia composto de castanha de caju, passas, amêndoas, nozes, etc., barras de cereais, biscoito salgado e água para beber durante a viagem e evitar paradas desnecessárias.
O idioma sempre é um problema. O espanhol falado na América do Sul é distinto em cada país mas sei que tem a linguagem universal dos gestos e da necessidade, ou seja, preciso comer coloco a mão diante da boca e gesticulo sinal de comida, dormir, coloco a mão em concha do lado da bochecha. Palavras universais como hotel, taxi, etc., me tirariam dos prováveis apertos.
Escolhi um período em que o inverno não me maltrataria muito e a primavera começaria a me encantar com uma natureza exuberante. Então, setembro chegou e no dia primeiro, às 10h da manhã, pedi minha mulher para tirar uma foto minha vestido com minha armadura motociclistica e com uma sensação inexplicável de insegurança e ousadia, o desejo venceu o mêdo e dei a partida no motor.
Respirei fundo, andei alguns quilômetros em marcha lenta, pensando em desistir ou avançar. Ainda tinha tempo de dar ouvidos a quase todos que me cercam de que estava fazendo uma loucura em viajar por 10 países, incluindo o Brasil, dando um grande abraço à América do Sul, sozinho. Isso era coisa de um velho insano que deveria tomar consciência do lugar que a sociedade tinha determinado aos iguais da minha geração e não se comportar como um eterno adolescente. Tinha o apoio da minha mulher e filhos, e a vontade empurrando a minha mão direita.
Já estava na Via Dutra e o cinza das edificações deu espaço ao verde da natureza, comecei a girar lentamente a manete e tomado por uma euforia inexplicável, colei o punho e mandei 140 em poucos segundos.
Havia dado a largada para o que seria um marco na minha vida. Aquele Paulo Cezar jamais existiria a partir daquele momento. Nascia o novo, o incerto, o real, o inesquecível.
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