terça-feira, 26 de maio de 2015

Parte 1 (Brasil). Viagem ao redor da América do Sul em setembro de 2014.



Rio de Janeiro, 10:30h da manhã do dia primeiro de setembro, Fui deixando a cidade com destino a Punta del Este, no Uruguai. 15.30h passava por São Paulo. Me perdí, me achei e toquei para Curitiba. Depois de 680 km rodados, a noite chegou e eu me vi em Cajati, cidade a 180 km de Curitiba, ainda em São Paulo. Tenho como regra não dirigir a noite, só em caso de emergência ou necessidade. Os maiores problemas acontecem depois que escurece. 

Dirigi quase que direto nove horas e a moto não me cansou. De zero a mil a moto vale dez mil. É potente e os recursos tecnológicos são bons. Testei o consumo de gasolina e no primeiro tanque ela fez 18.1 km por litro com uma velocidade  cruzeiro de 110 km/h mas a moto vai a 130km/h facilmente. Eu prefiro andar devagar e apreciar a  natureza.

Foi quando tive a minha primeira queda. Cheguei ao hotel, joguei o descanso lateral e ele bateu num ressalto e retornou a posição original e quando inclinei para sair...já deu pra ver a vergonha. Caí parado. E pensar que cheguei ao local e a atenção dos presentes se voltaram para o estranho e impressionados com a moto sorriam e na cena seguinte todos começaram a gargalhar com o mico que paguei, enquanto corriam para me ajudar. A moto não amassou, só o meu orgulho.

Momentos antes havia iniciado o teste de abastecimento que precisaria fazer no deserto do Chile. No posto de gasolina enchi o vasilhame com 10 litros e depois da queda resolvi terminar o teste transferindo a gasolina para o tanque da moto. Descobri que a pressão da queda na gasolina dentro do vasilhame fez o efeito de uma lata de refrigerante ao ser aberta. Borrifou de gasolina na moto e tive que lavar para não queimar a pintura. Agora, gasolina no vasilhame só no deserto de Atacama.

Isso me fez pensar sobre a gasolina e o deserto. Sol, sacolejo constante e a pressão dentro do vasilhame além da questão legal, pois no Brasil tem restrição de uso mas na Bolívia, Chile e Perú acredito que não pois ví galões de gasolina enormes no teto das pickup's.

Depois de 15 minutos de conversa me despedi e fui cobrir a moto para ir para o quarto. Sempre faço isso para evitar o roubo e o dano. É impressionante como ficam olhando e circulando a moto depois que me afasto. Decidi, então, assim que chego em algum lugar, a primeira coisa que faço depois de tirar a bagagem é cobrí-la. Isso ajuda também a proteger os alforges que ficam na moto e os suportes de GPS e outros adereços. Isso não impede que roubem ou danifiquem mas, com certeza, no dia seguinte, saberei que alguém mexeu. Pior será descobrir isso no meio da viagem, três dias depois, além do que, o que não vêem não podem cobiçar.

Notícias de bom tempo me animaram e aproveitei para sair cedo, 6h. Se tudo desse certo, chegaria em Porto Alegre no final do mesmo dia ou na metade do dia seguinte, disposição não faltava.

Apesar de muito peso na moto, pois havia previsto soluções para as situações que poderia encontrar, resolvi andar 500 km pela manhã e o resto até a noite para chegar a Porto Alegre naquele dia ainda. Pura pretenção pois sabia que não passava de uma vontade muito grande. Tudo depende do que se encontra pela frente, é um engarrafamento, obras, chuva, desvios por acidente geográfico, controle policial, etc., e teria que dirigir a noite, o que não era minha intenção, mas pela frente tinha minha vontade e resolvi atendê-la.

É interessante  falar sobre o tipo de roupa que é bom de se usar na viagem mas isso  eu explico  outra hora.

Na estrada em direção a Curitiba e Florianópolis a chuva não parava e não queria correr riscos. Fui devagar até o sol chegar e a pista secar. Depois de muita névoa na serra do Paraná que esqueci o nome, chuva torrencial, ventania que quase me derrubou da moto, com direito a alguns granizos, andando a 60km/h resolvir parar próximo a Florianópolis para não acontecer o pior. Muitas, mas muitas carretas na estrada me causaram desconforto e apreensão. Eram tantas que o cheiro de borracha dos freios entrava forte nas minhas narinas dentro do capacete.

Parei no meio da tempestade. Procurei no GPS um hotel mais próximo e ao me dirigir para ele passei por um viaduto com dois motociclistas se protegendo. Foi ai que percebi o toc toc no capacete. Era o granizo caindo.

A chuva era tanta que pensei que ia nadar até chegar ao hotel. Ao ver duas baleias imaginei que estava delirando mas era o hotel Flamboyant que tem como símbolo duas baleias.



Quando a tempestade começou eram 17.50h. Se continuasse a viagem, poderia chegar até a metade do caminho de Porto Alegre. Não quis arriscar. As carretas começaram a ficar ameaçadoras. O que tem de lentas na subida da serra, têm de ferozes na chuva. Quando parei no acostamento para procurar um hotel no GPS, o deslocamento de ar pela passagem delas quase me derrubou. Isso porque o centro de gravidade da moto se alterou com o peso que levava.

Muita chuva a ponto de não ver pelo visor do capacete e muito frio. ainda bem que a manete aquecida é uma ajuda muito boa. Ela já vem com a moto. tem 2 estágios.O primeiro aquece, o segundo queima.

O capacete, o casaco e a calça ganharam nota mil. Só passou água nos punhos e na nuca porque estava com luva sem proteção e a água que escorria do capacete entrava pela nuca. O frio que era intenso não chegou a me afetar, o aquecimento das manetes foi fantástico.

Já no hotel, depois de um banho frio e com roupas limpas, fui ao restaurante e jantei a luz de velas porque a tempestade tinha cortado a eletricidade.

Faltavam 131 km para chegar em Florianópolis e no dia seguinte pretendia chegar em Punta del Este ou meu cronograma ia falhar.

Quando saí do hotel, no dia seguinte, o sol estava lindo. Na primeira curva começou a chover e tive que parar e recolher o varal que havia feito na moto na intensão de secar as roupas lavadas na noite anterior, enquanto dirigia. A chuva e o frio foram cruéis. Curto a chuva e o frio mas andar debaixo de um chuveiro ligado o tempo todo é outra coisa.

Depois de 4 horas de chuva, passa tudo pela sua cabeça. Tem o frio intenso, desconforto, perguntas sobre a opção de entrar nessa enrascada, vontade de desistir. Existe um momento em que tudo aquilo vira rotina. Você está molhado, com frio e desanimado. Nesse momento vem a reflexão: isso tudo que está acontecendo me faz querer procurar abrigo, agora, ao invés de parar e ficar sentindo frio o melhor é continuar até ultrapassar as nuvens e a chuva passará com elas. A conclusão foi que enfrentei a chuva até as 16h.

Quando sai da chuva, tudo melhorou. A decisão de procurar o fim das nuvens veio após a vontade de desistir. Passei o obstáculo e aprendi o que fazer nas próximas chuvas.

Passei por cidades interessantes. Pensei em visitar, mas tinha uma meta a atingir e levaria pelo menos seis meses de viagem se me afastasse da meta que havia traçado.

Estava a 100km de Florianópolis e 570 de Porto Alegre. O GPS dizia que tinha andado 1070 km. Até Punta del Este faltavam 1292 km. Precisaria de dois dias e se a névoa com chuva, frio e granizo continuassem não poderia forçar muito.

A cada dia tinha uma surpresa interessante. Entre as coisas que me preocupavam era a falsificação de dinheiro na Argentina, a altitude do Chile, a greve com bloqueio de estrada no Peru, a falta de gasolina na Bolívia,os revolucionarios na Colômbia, a convulsão social na  Venezuela e a corrupção na fronteira de todos eles. Ah! o frio abaixo de zero nesta época do ano no Aconcágua.

Não consegui passar por Porto Alegre, muito menos por Florianópolis. Com a tempestade só tive tempo seguir direto para a fronteira com o Uruguai.

Estava à 150 km da fronteira quando parei em um posto de gasolina e aluguei um quarto em cima da churrascaria ao lado do posto.

Estava a 560km de Punta del Este. choveu direito até as 16h e depois o sol abriu. e pude andar melhor. Era o terceiro dia e no quarto, chegaria a Punta del Este.

As estradas no Brasil são excelentes mas parecidas e com a chuva não me inspirei em fotografar.

O inverno acabaria oficialmente no dia 22 e com a primavera, precisava ter o tempo a meu favor pois no Aconcágua o frio é intenso.

Após Punta del Este, o roteiro seria Montevideo, então seguiria para Colonia do Sacramento e dali atravessaria a bacia do Prata para Buenos Aires.

Trecho entre Punta del Este à Colonia del Sacramento


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário.