Explosão deixa feridos no metrô do Chile; governo fala em terrorismo. Uma explosão deixou sete feridos no metrô em Santiago. A bomba explodiu na estação Escuela Militar, em uma área em que funciona um centro comercial, dizia o noticiário.
Andar pelos desfiladeiros, entre a imensidão do silêncio e a exuberância da natureza, não tem preço. Foram os 250 quilômetros mais exaustivos que tive e com o noticiário deste ato terrorista povoando meus pensamentos fui me aproximando da capital do Chile.
No livro que comprei sobre os pontos turísticos das cidades de todos os países da América do Sul me indicavam sugestões que não resistiram a vontade de um bom banho quente e uma boa noite de sono.
Estava exausto e precisava recompor as forças.
Amanheceu e fui para o terraço do hotel e após uma fotografia panorâmica da cidade que se resumia a um complexo de edifícios, tomei um café da manhã pleno, ou seja, me entupi de comida para economizar o almoço e possivelmente o jantar.

Caminhando pelos arredores do centro da cidade, procurei as "artesanias del Chile" mas encontrei cerâmicas que copiavam as culturas chinesas, japonesas e centros comerciais que pareciam camelódromos.
Por não seguir uma orientação, fruto de um planejamento, o acaso me levou a um shopping center que é igual em todos os lugares e a alguns atos performáticos de artistas de rua que se exibiam em praça pública. A arquitetura da cidade é única e indescritível, difícil de explicar mas fácil de se entender: é um ambiente em que me senti bem e tranquilo apesar das notícias dos jornais. Acredito que tudo tem momento e lugar para acontecer. Minha percepção seria outra se estivesse naquela estação de metrô que explodiu.
O povo latino americano se assemelha na forma de interagir socialmente. Agradáveis, simpáticos e preocupados em viver a vida suprindo suas necessidades e batalhando para viver com dignidade. Acredito que o inconsciente coletivo, na sua essência é belo, harmonioso e progressista. A massa ignara, movida pelos meios de comunicação, é que pode transformar em ódio, o sentimento cristão de amarmos uns aos outros, somente para atender interesses outros.
Estava satisfeito e feliz por estar inteiro e a moto também. Para isso, me preveni desde o começo da viagem, com um cinturão que mantinha minha coluna ereta e uma almofada anti hemorroidas. Artefatos necessários para quem fica sentado em uma mesma posição por, no mínimo, oito horas seguidas com intervalos pequenos para um café. Ao final do dia parecia aqueles cowboys que andavam com as pernas arqueadas depois de longas cavalgadas. Quem é sertanejo entende o que digo.
Voltei cedo para o hotel. No dia seguinte ia enfrentar o deserto do Atacama e depois Bolívia e na sequência, Lapaz, quase três mil quilômetros a frente.
No dia seguinte, planejei estar em uma pequena cidade no meio do deserto chamada Vallenar.
Andei 10 horas e 850 quilômetros. No dia seguinte pretendia atravessar a fronteira e conhecer o deserto do sal, chamado "Salar del Uyuni".
Atravessar este deserto foi tenso porque tem que administrar muitas coisas na sua cabeça para dar certo: ansiedade, controle do tempo, gasolina, tempo de chegada com segurança ao destino. Para se ter uma ideia, é possível dirigir cerca de 100, até 200 quilômetros em linha reta, literalmente sem curvas ou quase sem curvas, eventualmente sendo ultrapassado por uma carreta e em uma paisagem desértica que tem por distração somente pequenos tornados que se formam eventualmente.
A natureza neste deserto é quase morta. Tem rochas, areia, algumas ervas selvagens por quilômetros seguidos. Não tem vida animal devido ao frio, acho. Tem enormes sulcos que o vento faz nas paisagens. A coisa é violenta. O vento que em dia de sol, tranquilo, como foi este dia, era tão forte que me obrigava a inclinar a moto para não perder o centro de gravidade e manter ela em pé para poder dirigir. Pela manhã, com o tempo nublado e com névoa, toda atenção é pouca para uma viagem tranquila.
Ao chegar a noite é imprescindível que esteja em local seguro pois o frio é intenso e se acontecer algum problema no meio de uma reta dessas, no escuro, você vira picolé.
A grandiosidade das manifestações da natureza sob as mais diversas formas, é gratificante por mais cruel e sinistro que possa parecer, basta ver no youtube ou digitar deserto do atacama no Google Earth e colocar o street view em qualquer ponto da estrada no deserto verá do que estou falando.
A experiência foi única, cansativa e gratificante, na medida em que me deparei com locais, regiões que me impressionaram positivamente, mesmo quando me assustou muito.
A escolha de vir nessa época, inverno, me fez pagar um preço um pouco alto na resistência física e psicológica, mas isso também faz parte da festa. Você passa a perceber a vida de uma forma diferente, longe do maniqueísmo de olhar o mundo pelos princípios opostos do bem e o mal e perceber que entre o preto e o branco existe milhões de tons de cinza. Pergunte a um esquimó quantos brancos tem o branco.
Alguém diria, para que se meter em uma situação dessas? A resposta é simples. Você sabe porque estuda? É para entender melhor o mundo e transformá-lo, arrumando um emprego melhor para dar mais qualidade de vida, etc.. Esta viagem está me dando isso, conhecimento. Pretendo fazer o melhor com o que estou aprendendo.
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