Última ou penúltima aula de aprendizado em manejo de veleiro, não sei.
Marcelo, professor, me orienta na preparação do veleiro para a tarefa do dia: atravessar a lagoa, contornar uma pequena ilha e retornar.
São 15h e a tarde está agradavelmente ventilada.
Viagem solo, acompanhado atentamente por outro veleiro, motorizado para suprir eventuais transtornos e comunicação por rádio para não sair do que foi combinado e evitar possíveis absurdos.
Início tatibitati, ou seja, aos tropeços, vejo-me orgulhosamente feliz singrando ao objetivo com largos zigzags, muita pretensão e habilidade naif.
Desconhecedor do local, raspei alguns bancos de areia e não satisfeito, encalhei. Orientado, peguei um remo e pela proa coloquei o veleiro de volta na brincadeira.
Climax do desafio, a ilha. Contorno a bombordo, entro no canal, vegetação espessa e alta, vento zero e eu, diante do inusitado, meia hora depois do mexe aqui, mexe ali, escuto o Marcelo orientar, levanta a quilha e o leme que você encalhou.
Desafio superado, notei que a tarde se foi e a noite chegou com chuva. Pensei: vento de popa, afrouxo a vela mestra e a genoa e tacalepau, chegaremos logo.
A chuva aumentou, o vento parou e pensei: só não pode cair raio.
Quase parado no meio do lago, distante uns 900 metros do cais, chuva forte, molhado, com frio e meio eufórico com a adrenalina ao invés de temor, escuto o Marcelo pelo radio: põe o casaco, se trovejar eu te reboco.
Rebocado no meu primeiro solo, humilhação maior não deve existir. Nesse momento a genoa fez uma barriga e a mestra acompanhou. Sinalizei que ia na banguela até aonde desse.
A chuva aumentou, o casaco não conteve a água, o frio começou a incomodar e o vento parou de novo.
Não teve jeito, a 100 metros do cais fui rebocado e chegamos bem e inteiros.
Conclusões e reflexões:
Num relacionamento, você se casa não com as virtudes e sim com os defeitos da pessoa. O que explica isso é o querer, o amor, a paixão, a necessidade, o que você quiser chamar.
Que venham novas tempestades e céu de brigadeiro também.
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